O Sociólogo
Brasilio Sallum, autor do recém-lançado livro O Impeachment de Fernando Collor,
não vê saída para a crise política atual porque o governo da Presidente Dilma
Rousseff não tem clareza da direção a tomar nem a oposição tem “horizonte” a
seguir. Para o Professor da USP, os movimentos que defendem o afastamento da
petista têm força para “empurrar” os partidos, mas isso é insuficiente para
desencadear o processo político em si.
Perguntado
se é possível o governo sair da crise política, o Sociólogo disse que “passamos
por incertezas que não têm respostas claras nem do governo nem da oposição.
Paulatinamente, estamos amadurecendo”. Ele reconhece que o fato de o governo
tentar hoje ajustar as contas “já é um enorme avanço” em relação ao que antes
da eleição se dizia, de que não estávamos em crise econômica, que o mundo era
uma maravilha. “Nós, pelo menos hoje, temos absoluta consciência de que devemos
fazer alguma coisa. A crise política é grave por, no mínimo, três razões: pelo
fato de a Presidente ter perdido autoridade, pelo enfraquecimento da coalizão e
pela baixa popularidade de Dilma. Por outro lado, as forças que se opõem a ela
não têm horizonte claro a perseguir. Não sabemos a qual direção a Presidente
quer levar o País.”
Segundo
Sallum, como não estamos vendo uma coalizão definida e clara, que trabalhe
especificamente pelo impeachment, “não se pode dizer que hoje haja
beneficiários. Como funciona o processo? Você tem oposições, que se organizam
contra o Presidente, mas ao mesmo tempo se organizam em favor do Vice. Na época
do ex-Presidente Fernando Collor, houve isso: uma coalizão entre PMDB, PSDB e
PT, que se articularam contra o Collor, conseguiram maioria e atraíram
ex-aliados do ex-Presidente. É isso que não existe hoje”.
Questionado
se as ruas podem hoje estimular esse movimento, ele respondeu que os movimentos
de rua não têm a menor condição de fazer isso hoje. “As mobilizações da época
do Collor foram articuladas com partidos e por uma rede de mais de 100
organizações. Os movimentos de hoje, desde os de 2013, não têm condução
partidária. As ruas hoje empurram os partidos, mas não são empurradas pelos
partidos. Parece que hoje a relação é inversa àquela verificada na época de
Collor. Em geral, mobilizações sempre têm um cordel, são puxadas por aqueles
que fazem parte do sistema político, mesmo em posição secundária. A questão é
que os partidos não estão conseguindo dar direção à demanda. Os partidos estão muito
desorganizados, têm alas diferentes com dificuldade de manter uma unidade, têm
facções que agem de formas distintas.”
Para o Sociólogo,
há hoje tentativas, ameaças, ‘pautas-bomba’. “Mas os obstáculos são muito
grandes para se alcançar o impedimento. Os sinais ainda não são totalmente
claros, não é um movimento que será facilmente bem-sucedido. As dificuldades
jurídicas e políticas serão bastante grandes, não vejo o impeachment visível no
horizonte, embora haja movimentos nessa direção.”
Sobre o
peso da Operação Lava-Jato nesse contexto, o Sociólogo avalia que “o problema é
que a Lava-Jato mostra de um lado que as instituições estão funcionando
extraordinariamente bem do ponto de vista institucional, produzindo minibombas
políticas. Isso tornam difíceis as associações – as agregações, digamos – entre
os políticos, porque eles são passíveis de processos. Todos os mecanismos de
articulação política estão sujeitos a receber o impacto da Lava-Jato. Depois
que o Eduardo Cunha foi envolvido nas investigações, a Câmara passou a ser uma
fonte potencial de obstáculos”.
Agência Estado
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