domingo, 27 de junho de 2010

ARGENTINA REPETE FILME, BATE O MÉXICO E VAI ATRÁS DA ALEMANHA NAS QUARTAS

Gol ilegal de Carlitos Tevez abre caminho na vitória por 3 a 1. No sábado, às 11h, hermanos fazem duelo de campeões contra o algoz da Copa de 2006
Fonte: globo.com
A figura de Maradona à beira do campo, envergando seu terno cinza, ajuda a lembrar que este não é um filme repetido. O técnico é novo, mas o roteiro argentino no mata-mata da Copa de 2010 vai se desenhando como um plágio de 2006. Neste domingo, a vítima foi o México, assim como tinha sido há quatro anos, com a diferença de que, desta vez, foi um gol ilegal de Tevez que abriu o caminho para a vitória por 3 a 1. Cenas do próximo capítulo: no sábado, às 11h, na Cidade do Cabo, está marcado para as quartas de final um duelo de campeões, daqueles que fazem tremer qualquer estádio. Na outra metade do campo, bate ponto a tricampeã Alemanha, algoz dos hermanos no último Mundial. Saiam da frente.
Em 2006, a Argentina bateu o México na prorrogação, com gol de Maxi Rodríguez, e foi eliminada pelos alemães nos pênaltis. Maradona, que estava em frente à TV há quatro anos, espera que agora a segunda parte do filme tenha um final mais feliz. Carlos Tevez à frente de Messi: com dois gols, ele foi o melhor em campo no domingo (Foto: Getty Imagens)
No domingo, os 84.337 torcedores no Soccer City viam um México abusado e bem armado no início do jogo, quando Tevez abriu o caminho da vitória argentina em claríssimo impedimento, ignorado pelo juiz. Higuaín fez 2 a 0 e assumiu a artilharia da Copa, com quatro gols. O próprio Tevez, com um foguete de fora da área, ampliou o placar, e os mexicanos ainda diminuíram com Hernández. Bem marcado, Messi fez boas jogadas, mas não conseguiu repetir as atuações anteriores, e ainda não foi desta vez que conseguiu balançar a rede.
O jogo Antes de fazer qualquer defesa, Perez fez um bico ajudando a limpar o campo (Foto: Getty Imagens)
Se Maradona era torcedor em 2006, desta vez ele tinha responsabilidades à beira do gramado. O técnico deixou Verón e Guitérrez no banco, lançando Maxi Rodríguez e Otamendi. Na zaga, Burdisso foi mantido no lugar do lesionado Samuel. Do outro lado, Javier Aguirre surpreendeu ao fazer uma pequena revolução no elenco: "Chicharito" Hernández barrou Franco no ataque e ainda ganhou um novo companheiro: Bautista, que não tinha atuado um minuto sequer, mas superou Barrera na disputa para substituir o machucado Vela.
O primeiro embate do dia foi entre o goleiro Perez e um enorme rolo de papel higiênico jogado pela torcida no meio do campo. O juiz italiano Roberto Rosetti parou o jogo aos cinco minutos, e o carequinha que guarda as traves mexicanas se encarregou de fazer a faxina no gramado. Maradona aplaude Messi, que não chegou a brilhar na partida deste domingo (Foto: Getty Imagens)
Messi se engraçou aos sete, em jogada individual que terminou em chute prensado na zaga. Mas o primeiro grande susto saiu logo depois, pelos pés de Salcido, que soltou uma bomba do meio da rua e por pouco não surpreendeu Romero: o goleiro fez mão de maionese e a bola explodiu no travessão. Em seguida, Guardado bateu de fora da área e viu o tiro, com incrível efeito, raspar a trave. O camisa 10 da Argentina arrancou de novo aos 12 e ganhou do zagueiro na corrida, mas tentou uma jogada que nem o maior craque da Copa consegue: encobrir um goleiro que estava em cima da linha.
Nos primeiros 15 minutos, três finalizações para cada lado, mas o México chegava com mais perigo. E a defesa conseguia a proeza de anular as jogadas argentinas pelas pontas. Engarrafado no meio, Messi tinha que voltar até a linha do meio de campo, sempre com pelo menos dois jogadores beliscando seus calcanhares.
Impedimento? Hein?
A solução para sair dessa enrascada? Uma ajudinha do apito. Aos 26, Messi tocou para um Tevez em posição duvidosa. O atacante dividiu com o goleiro e a bola voltou para o camisa 10, que tentou encobri-lo. Aí reapareceu Tevez, e desta vez sua posição não tinha nada de duvidosa. Completamente impedido, Carlitos cabeceou livre para o fundo da rede.
Enquanto Tevez se ajoelhava perto da bandeirinha de escanteio e mordia o escudo na camisa, os mexicanos voltavam para dar a saída no meio de campo. Foi aí que o telão do estádio, contrariando o habitual na Copa, mostrou o replay do lance, com tira-teima e tudo. Resultado: um exército verde partiu em direção ao árbitro italiano. Rosetti ainda foi consultar o assistente Stefano Ayroldi, mas a dupla confirmou a lambança: Argentina 1 a 0. Mexicanos avançam no assistente após o gol ilegal de Tevez, que abriu o placar (Foto: Getty Imagens)
Aos 33, os hermanos receberam outra ajuda generosa, desta vez do zagueiro mexicano Osorio, disparado o pior em campo no primeiro tempo. Na entrada da área, o camisa 5 recebeu a bola sozinho, tranquilo, soberano, só ele e a Jabulani. Mesmo assim conseguiu se enrolar todo. Entregou o ouro para Higuaín, que, surpreso com o presente, invadiu a área e teve frieza para driblar o goleiro antes de fazer o segundo.
No vídeo ao lado, dá para ter uma ideia das presepadas de Osorio durante a partida. Mas Higuaín não tem nada com isso. Artilheiro da Copa com quatro gols, ele partiu acelerado em direção a Maradona, que agradeceu com um abraço caloroso. Pouco antes, ganhou os parabéns do lateral Heinze, que não percebeu o cinegrafista à beira do campo e – bum – deu uma cabeçada na câmera. Em um milésimo de segundo, a euforia virou fúria, e o argentino, no reflexo, deu um tapão no equipamento. Segue o jogo.
Os dois gols deram um banho de água fria no México, e a Argentina teve chances de ampliar. Aos 36, Di María chutou cruzado e obrigou Perez a fazer grande defesa. Quatro minutos depois, Higuaín ganhou de Osorio – sempre ele – no alto, mas cabeceou para fora.
Repleto de tensão, o primeiro tempo terminou com bate-boca e empurra-empurra na saída para o vestiário. Na boca do túnel, o bolo de gente incluía jogadores mexicanos, Maradona, reservas argentinos. Blanco e Clemente Rodríguez chegaram a trocar empurrões. No fim das contas, o tumulto foi controlado e todos desceram na santa paz para os 15 minutos de descanso.
Foguete de Tevez destrói o México
Na volta para o segundo tempo, Javier Aguirre tirou Bautista – que não fez absolutamente nada em seus únicos 45 minutos na Copa – e lançou o atacante Barrera. A estratégia ofensiva do México, contudo, foi dizimada por um torpedo inapelável de Tevez. Aos sete minutos, o camisa 11 perdeu a bola para os zagueiros na frente da área, mas recuperou a posse e não pensou duas vezes: um canudo no ângulo de Perez, golaço, 3 a 0.
Aos poucos, o México voltou a respirar. A equipe aumentou o volume de jogo e chegou algumas vezes, principalmente com chutes fortes de fora da área. Guardado, Salcido, cada um foi tentando o seu, e o goleiro Romero botava para escanteio ou via a bola sair em tiro de meta. Hernández teve sua primeira chance de cabeça aos 17, mas mandou por cima do travessão. Bola na rede: Hernandez deu um sopro de esperança ao México no segundo tempo (Foto: Getty Imagens)
Aos 23, descanso merecido para o guerreiro Tevez. Autor de dois gols, ele deixou o campo para a entrada de Verón e ganhou o abraço agradecido de Maradona.
O esforço asteca persistiu. Aos 24, Heinze salvou em cima da linha o que seria o gol de Barrera. Aos 26, não houve jeito. Hernández botou na frente, criou espaço dentro da área e encheu o pé esquerdo, balançando a rede de Romero.
Com Messi apagado, a Argentina não conseguia emplacar seus contra-ataques. Mas os comandados do Pibe deram um jeito de segurar o ímpeto verde e manter o placar a seu favor. O camisa 10 ainda teve uma oportunidade de ouro para marcar no último minuto. O chute esbarrou no goleiro Perez, que mandou a escanteio. Ao fim do jogo, o torcedor mexicano, solitário, não consegue conter a frustração (Foto: Getty Imagens)
Fim do filme, sobem os créditos: Tevez é eleito o melhor da partida pelos internautas que votaram no site da Fifa; Higuaín passa a ser artilheiro isolado do Mundial, com quatro gols; Messi não estufa a rede e mantém seu jejum; Maradona segue inflado de confiança. Agora, o treinador pode pensar na reprise de sábado – torcendo, claro, para que a película tenha um desfecho diferente. Decepção verde, festa em azul e branco: a Argentina está nas quartas de final da Copa (Foto: Reuters)

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