A Federação da Agricultura do Rio Grande do Norte (Faern) prepara para a segunda quinzena de fevereiro, depois do Carnaval, uma excursão pelas áreas mais atingidas pela seca, levando como convidados um grupo de Jornalistas e uma equipe própria de vídeo para verificar “in loco” as reais dimensões do estrago.
A “Expedição Retratos da Seca”, nome escolhido pelos organizadores, deve virar cartaz e adesivo de carro. A data de saída e o roteiro ainda estão sob análise, mas é provável que aconteça no último fim de semana do mês, entre os dias 22 a 25, entre sexta e segunda-feira. Na lista de convidados estão apenas Jornalista do RN, da mídia impressa e eletrônica, e nenhum político ou representante de partido está na relação.
“Se eles (os políticos) quiserem aparecer em determinados pontos do roteiro serão bem vindos, mas nosso interesse são os Jornalistas e o foco do trabalho é mostrar sem retoques a realidade e questionar os investimentos feitos no Estado para minimizar os efeitos da seca que, em nossa opinião, estão acomodados a recursos federais”, disse nesta segunda feira o Presidente da Faern, José Álvares Vieira.
Embora o assunto tenha sido ventilado durante a última reunião semanal para monitorar os efeitos da estiagem, a expedição também não terá qualquer participação de representantes do governo. A idéia, que já vinha sendo alimentada desde o ano passado por algumas lideranças da agricultura, ganhou força depois da divulgação no Ceará da previsão dos especialistas para o quadro chuvoso.
“Enquanto na Paraíba todas as emendas parlamentares foram direcionadas para combater os efeitos da seca e em Pernambuco o Estado investe R$ 33 milhões de recursos próprios para o mesmo fim, no Rio Grande do Norte a Governadora vetou emendas que poderiam minimizar as conseqüências da seca e houve uma acomodação flagrante aos recursos federais, como se eles sozinhos fossem capazes de resolver o problema”, afirmou Vieira.
A idéia é montar um comboio inicialmente com dois microônibus, acompanhados por um carro de apoio, com paradas para almoço e reservas em hotéis com estrutura de internet para que os profissionais possam atualizar seus despachos para redações e posts para atualizar seus blogs e portais.
A primeira excursão desse tipo foi feita pelo Presidente da Associação Norte-rio-grandense dos Criadores, Júnior Teixeira, pouco antes da Festa do Boi, realizada em outubro. Com uma equipe de vídeo, ele saiu pelo interior à caça de imagens e depoimentos que não foram divulgados. Mas em seu discurso durante a abertura da Festa, Teixeira destilou um pouco do que viu, mas isso teria irritado a Governadora, que não gostou de ser confrontada com a realidade dura da estiagem, ainda em outubro do ano passado.
“O gado magro já está bebendo a lama dos riachos, tentando escapar do sol inclemente. A produção na pecuária cai a cada dia e verdadeiros cemitérios de ossadas é o que observo quando viajo para certas localidades. Temos que fazer algo imediatamente ou observaremos o nosso rebanho desaparecer e a economia dos pequenos Municípios minguarem”, afirmou Teixeira na ocasião.
O Presidente da Anorc não foi localizado hoje para comentar a expedição organizada pela Faern. Mas no fim do ano passado, o Presidente do Sindicato dos Produtores de Leite do Estado, Marcelo Passos, já em novembro pensava em organizar uma excursão pelo interior, mas a iniciativa não se concretizou. Na ocasião, ele tentou obter o apoio de Vieira, que se encontrava na China em uma missão organizada pela Senadora Kátia Abreu, Presidente da Confederação Nacional da Agricultura.
JH não conseguiu localizar hoje o Secretário de Meio Ambiente e Recurso Hídricos, Gilberto Jales, para comentar a iniciativa da Faern ou as declarações de José Vieira de que o governo estadual estaria acomodado aos recursos federais de combate à seca. Na semana passada, numa edição extraordinária do Diário Oficial, um Decreto assinado pela Governadora estima a arrecadação para todo o exercício fiscal de 2013 em mais de R$ 11 bilhões, dos quais apenas R$ 225 milhões de investimentos.
O Secretário de Planejamento e Finanças, Obery Rodrigues, afirma que a administração tem condições de investir 10% desse montante em programas oficiais – o que daria mais de R$ 1 bilhão – e boa parte desses recursos estariam voltados aos recursos hídricos.
Segundo o Instituto de Defesa Agropecuário do RN (Idiarn), desde o começo da seca o Estado já teria perdido 25% de seu rebanho, o que daria aproximadamente 250 mil cabeças. Essa estimativa foi baseada na venda final de vacinas contra aftosa divulgada na semana passada durante a última etapa da campanha.
Fonte: O Jornal de Hoje
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