sábado, 5 de janeiro de 2013

CONDENADO POR DESOBEDECER LEIS, AGORA APTO A ESCREVER LEIS.

“Tenho a consciência serena dos inocentes”. 
José Genoino é um homem de palavras e sentenças cortantes. 
Durante vários anos foi a voz oficial do PT na imprensa conservadora. Teve uma coluna fixa na página 2 do Estadão e mais do que isso, o insuspeito voto de um dos ícones do reacionarismo burguês que forma a opinião do jornal. 
Durante muito tempo, José Genoíno foi o petista limpinho, civilizado e ordeiro que tornou respeitável a opinião do partido revolucionário que queria queimar as instituições para implantar seu modelo socialista. A face palatável do partido para os burgueses que tinham horror aos barbudos revolucionários. Até o cavanhaque dele, a la d`Artagnan, era mais fotogênico, arrumadinho, geometricamente bem cortado. 
José Genoino sempre foi um homem honrado e o seu passado de luta revolucionária uma medalha de honra ao mérito como aquelas que os meninos bem comportados ganham nos colégios internos. 
Enfim, um fenômeno: um revolucionário respeitado e querido pelos reacionários. Na época do mensalão, José Genoíno carregava o andor de Presidente do Partido dos Trabalhadores, como uma espécie de avalista das boas intenções do partido. Como desconfiar de um partido entregue à Presidência de um sacristão de bons modos como ele? 
Depois aconteceu o que todo mundo sabe. Aos poucos, enquanto as investigações iam avançando e as evidências da existência do mensalão foram se acumulando, Genoíno foi perdendo a altivez, o peito empombado murchou um pouco e a voz metálica foi perdendo o tom afirmativo, altaneiro e superior. Não bastasse o mensalão, veio o patético episódio dos dólares na cueca. 
Genoíno se escondeu na humildade, passou por um início de depressão, escondeu-se no quarto dos fundos de sua casa, perdeu o brilho, seu orgulho empanou-se. Ele tornou-se opaco. 
Condenado a seis anos de prisão por corrupção e formação de quadrilha, será beneficiado com regime semi-aberto e poderá trabalhar normalmente de dia e dormir na prisão. Se comparado a José Dirceu, dito o chefe da quadrilha, um mal menor. 
Suplente de Deputado assumiu a vaga do titular numa cerimônia realizada quinta-feira na Câmara. Filigranas jurídicas sobre a viabilidade ou não de um recurso à Suprema Corte, última instância do julgamento, permitiram que fosse diplomado. 
Zangado, mal humorado e tratando a pontapés a imprensa que sempre lhe estendeu tapete vermelho, parece de mal com a vida assumindo um dos maiores paradoxos vivos criados pela adolescente democracia brasileira: temos, sabe lá por quanto tempo, uma pessoa condenada por desobedecer à lei considerada apta a escrever leis. 
Por Sandro Vaio

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