domingo, 30 de maio de 2010

AGROTÓXICOS: UM PERIGO SOBRE A MESA

Apenas no primeiro semestre de 2010, foram gastos R$ 60 milhões em pesticidas. Mais de 600 toneladas por ano são utilizadas na agricultura.
Por Fábio Bezerra

O comércio dos agrotóxicos movimenta bilhões de dólares em todo o mundo. São substâncias que, apesar de serem cada vez mais utilizadas na agricultura, podem oferecer perigo para o homem, dependendo da toxicidade, do grau de contaminação e do tempo de exposição durante sua aplicação.
Em Natal, foi essa preocupação que motivou a Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Natal a instaurar quatro inquéritos civis para investigação de supermercados da capital, após um laudo que comprovou índices de contaminação acima do permitido em alguns alimentos encontrados nesses estabelecimentos.
O Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária (Idiarn), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa - RN), a Empresa de Extensão Rural (Emater) e a Central de Abastecimento do RN (Ceasa) foram chamados para prestar informações quanto às medidas tomadas para a solução dos problemas, no prazo de 10 dias.
Os laudos foram requisitados pela Promotoria ao Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para), da ANVISA e encaminhados pela Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária (Suvisa). De acordo com o Promotor de Justiça Sérgio Sena, cada agrotóxico pode ser utilizado em uma lista de alimentos predefinidos e a análise demonstrou a utilização de agrotóxicos permitidos em níveis acima do limite ou utilização de pesticidas não apropriados para determinados tipos de hortaliças, legumes e frutas. O Promotor requereu respostas aos envolvidos - fornecedores, produtores e órgãos públicos.
Foto: Valdemir Alexandre

Foram encontrados Clorpirifós, Ditiocarbamatos, Metamidofós e Metomil, em frutas e verduras. De acordo com o laudo do Ministério Público (MP), em um dos supermercados foram verificadas amostras com grandes quantidades de agrotóxico no tomate e na alface. Em outro comércio, os níveis acima do permitido por lei estavam nas amostras coletadas de maçã, pimentão e tomate. Em mais um, os problemas foram referentes ao pimentão, enquanto em um quarto estabelecimento, a Suvisa encontrou irregularidades nas amostras de uva, pepino japonês, laranja, tomate, beterraba, mamão papaya, entre outros alimentos.
Após a coleta de dados, o MP definirá quais serão os próximos passos e que medidas serão tomadas. O estudo poderá resultar em uma Ação Civil Pública para que sejam cumpridas as normas estabelecidas pela ANVISA, que trabalha com uma tabela que define os níveis aceitáveis de cada substância utilizada no cultivo de alimentos. A meta, segundo o Promotor, é chegar até o agricultor para que o alimento só saia do campo dentro da lei.
Segundo o Diretor de Defesa e Inspeção Sanitária Vegetal do Idiarn, Magnos Lacerda, a fiscalização do uso dos agrotóxicos, desde o momento da compra até a devolução dos recipientes vazios, é de responsabilidade do Idiarn. “Se a produção do vegetal tiver ocorrido fora do estado, entraremos em contato com o órgão responsável, para que sejam tomadas as devidas providências.” Lacerda disse ainda que os resíduos desses produtos nos alimentos podem ser gerados pelo excesso do produto nas culturas, a antecipação na colheita ou ainda pela aplicação em culturas diferentes da indicada.
O Diretor declarou também que a fiscalização é realizada junto a propriedades potiguares, mas que essa medida não é suficiente para garantir a qualidade, uma vez que os produtores podem aumentar a quantidade de agrotóxico após a visita do órgão.
De acordo com o agrônomo do Idiarn, Gilson Marcone, foram recolhidas também amostras de pimentão com excesso de resíduos de agrotóxicos que só poderiam ser usados para maçã, por exemplo. A ANVISA coleta dados mensalmente e a punição para quem extrapola o nível desses produtos, segundo o Agrônomo, é uma multa ou advertência.
Foto: Marília RochaPara Marcone, o processo de rastreamento é complicado, pois envolve produtores, fornecedores e supermercados. “Temos a cultura da alface e do couve-flor. Seu período de plantio e colheita é muito rápido. Caso o Idiarn encontre alguma amostra de resíduos, até o Instituto chegar ao produtor, já haverá outra plantação no local.”
Ele disse ainda que os supermercados precisam perguntar aos seus fornecedores a origem dos produtos que compram. “Não temos como chegar até o produtor se os supermercados não procuram saber a origem dos alimentos. É importante que o consumidor pressione as empresas, ligando, por exemplo, no atendimento ao consumidor, perguntando sobre os produtos, tentando obter informações sobre a quantidade de agrotóxicos, caso contrário, fica difícil haver punição. É uma cadeia geral que afeta a todos, inclusive ao consumidor”.
Na visão do Vice-Presidente da Associação de Supermercados do Estado (Assurn), Eugênio Medeiros, o Rio Grande do Norte é um estado pequeno e a maioria dos produtos encontrados com resíduos vem de outros estados. Para ele, os supermercados não têm capacidade técnica de mensurar esses níveis de agrotóxicos. “Somos um estado pequeno. Só produzimos coentro e alface, a maioria vem de fora. São fornecedores de todo o Brasil e não dispomos de técnica para descobrir a contaminação desses produtos, como também de que plantação vieram.”
Segundo Medeiros, é difícil comprar os alimentos diretamente dos produtores, pois enquanto os supermercados querem comprar só o melhor da produção, os produtores só vendem a totalidade, incluindo frutas e verduras que não estão no padrão estético exigido pelo comércio. “Compramos na Ceasa, mas não conseguimos saber a origem dessas hortaliças, pois não há como fazer essa fiscalização. Os supermercados têm interesse em atestar seus produtos, mas precisamos de ajuda”.
Medeiros disse ainda que espera uma solução por parte do Ministério da Agricultura. Segundo ele, o setor de supermercados precisa de orientações de como agir nessa questão. “Estamos curiosos, pois o governo está sendo obrigado a tomar alguma decisão. Acredito que o Ministério deverá mostrar algum tipo de rastreamento para fiscalizar essas ações e o setor de supermercados está disposto a contribuir. Eu também sou um consumidor e como diariamente hortaliças e frutas, juntamente com a minha família, portanto é um direito do consumidor saber a origem desses alimentos que vão para a sua mesa”.
Direto para a mesa
Nos últimos anos, houve um crescimento na utilização de agrotóxicos no Brasil, o que tem sido associado ao aumento dos riscos de contaminação prejudiciais à saúde. Apenas no primeiro semestre de 2010, foram gastos R$ 60 milhões em agrotóxicos. São aproximadamente 650 toneladas por ano utilizadas nas produções agrícolas e que vão diretamente para a mesa do brasileiro.
Um levantamento do Ministério da Agricultura, divulgado em 2009, detectou que agricultores estão utilizando agrotóxicos irregulares em pelo menos 61 hortaliças e frutas produzidas no Brasil. Os agrotóxicos registrados para o tomate, por exemplo, estão sendo utilizados para combater ervas daninha e pragas da berinjela.
Quando bem utilizados, os agrotóxicos impedem a ação de seres nocivos, sem estragar os alimentos. Porém, se os agricultores não tiverem alguns cuidados durante seu uso ou exagerarem no tempo de uso, poderão afetar o ambiente e a saúde. Para ser aplicado, o produto precisa ser registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pelo IBAMA e pelo Ministério da Agricultura.
De acordo com um relatório da ANVISA sobre os perigos dos agrotóxicos para os humanos, divulgado em 2008, o descuido com os agrotóxicos pode ser fatal e causar problemas à saúde como: irritações na pele e nos olhos, problemas respiratórios, câncer em vários órgãos e distúrbios sexuais, como a impotência e a esterilidade.
No próximo mês será realizado o 8º Encontro de Fiscalização e Seminário Nacional sobre Agrotóxicos, em São Luís, no Maranhão. O evento tem como objetivo discutir os procedimentos adotados pelos estados na fiscalização de uso, comércio e trânsito de agrotóxicos.
Dicas
O portal Nominuto.com entrou em contato com a nutricionista Gerliane Cavalcante, que ensinou formas adequadas para a higienização de alimentos.
- Antes de ingerir frutas, verduras ou legumes crus, é preciso lavá-los em água corrente e deixá-los imersos em uma solução de água com bicarbonato de sódio (uma colher de sopa rasa de bicarbonato para cada litro de água), durante 15 minutos. Escorra, não necessitando lavá-los novamente;
- Ao descascar frutas e verduras, remova a parte externa. É nessa área dos alimentos que estão concentrados a maior parte dos agrotóxicos;
- Compre frutas e legumes da estação e regionais. Os alimentos in natura trazidos de regiões distantes ou que são produzidos fora de época requerem o uso de mais aditivos;
- Dispense a gordura de carnes e laticínios. Em alimentos de origem animal, os resíduos de pesticidas tendem a ficar acumulados nos tecidos gordurosos. No caso do tomate, berinjela e pepino, escolha os mais maduros (ou então compre com antecedência e os deixe amadurecer em casa), pois com o passar do tempo os agrotóxicos perdem o efeito;
- Desconfie do mamão papaia, laranja e banana que estejam muito bonitos – provavelmente foram cultivados com mais agrotóxicos;
- Lave cenoura, batata e beterraba com uma escova para limpar os restos de terra. Se possível, raspe a casca com uma faca ou descasque, acabando com o problema dos resíduos superficiais;
- Não deixe de consumir frutas, legumes e verduras. Esses alimentos são indispensáveis para regular o trânsito intestinal, fornecer vitaminas e minerais, além de eliminar toxinas presentes no organismo.
Portal nominuto.com

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